quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

fastidioso jeito de ser

É, eu sei, é complicado. Tento simplesmente dizer um olá, e já me questionam qual foi minha intenção com um indelicado ar de suspeita, suspeita quem sabe de uma possível enfadonha realidade. Tantas segundas intenções perdidas, que este nostálgico duvidar de minhas palavras me causa náuseas. Tudo gira, e, por um momento, eu tento entender, o que há de errado com você querido? Acho que me desacostumei com a maneira fria de ser deste mundo. Por favor, se você se identifica, contacte-me.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

'iguais em tudo na vida'

Parece que em versos o mundo não me leva tão à sério. Parece que precisam ser olhados com expressões grosseiras e mãos calejadas para alguma reflexão lhes ser bem-vinda. Não caracterizarei culpados por hoje. Mas, não sei se é possível requerer de alguém que não é individualizado a refletir como indivíduo. Os tantos severinos de João Cabral talvez não soubessem fazer outra coisa senão morrer 'de fome um pouco por dia...'. Como ouso clamar a um severino que me acompanhe em qualquer meditação se não lhe ofereço a tinta para o sangue, os tijolos de sua estrutura para que não desmorone em meio às minhas perguntas?

Como ouso?






[...]

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
[trecho do auto Pernambucano MORTE E VIDA SEVERINA, João Cabral de Melo Neto]


[foto: Sebastião Salgado]