terça-feira, 12 de julho de 2011

CIRURGIA DO MEU PAI



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Começo com um ponto final porque a "primeira frase" foi um silêncio de reflexão e profunda gratidão. Foi um baita dia surpreendentemente inesperado. Estava na cidade de São Paulo, quando, no fim de semana, tive a notícia de que meu pai não estava se sentindo muito bem e que havia sido levado ao Hospital Municipal com uma dor na região da fossa ilíaca esquerda. Constataram algumas anormalidades, a médica plantonista iniciou alguns procedimentos, mas o próximo plantonista logo interrompeu tudo, receitou algum antibiótico e liberou meu pai. De volta pra casa, mas sem o alívio esperado de sua dor, continuou a se queixar. Considere que meu pai é japonês, e como devem saber, sua cultura costuma ter um limiar, um limite maior para expressar a dor. Assim, se houve reclamação por parte dele, acredite, a dor não era coisa pequena. Eu ainda em São Paulo, pedi que tentassem levá-lo ao Hospital Universitário (HU) da cidade, que é o hospital-escola da Universidade em que sou acadêmica do curso de Medicina.

No HU, com insistência, foi recebido no Pronto Atendimento (PA). A partir de então se iniciou a busca pela desejada acertada hipótese diagnóstica. Exames, maca no corredor, médicos, estudantes, enfermeiros, pacientes... Como era de se esperar, meu pai passou a noite em claro, afinal diga-me quem souber, como descansar em um leito rodeado de pessoas em um vai-e-vem desenfreado no corredor de um Hospital Público? Resposta valendo R$...

Soube que a hipótese era de Diverticulite, e em função de o exame ter apresentado pneumoperitônio (presença de ar na cavidade abdominal) tudo indicava que havia ocorrido perfuração da parede intestinal. Não hesitei e voltei imediatamente a Maringá. Cheguei hoje quase 7h em casa. Tomei café da manhã e fui ao HU. Logo o Dr. Martin, com um grupo de uns 7 estudantes de Medicina, aproximou-se da maca em que meu pai repousava encostada na parede do corredor e compartilhou algumas palavras com os atentos alunos. Reuniram-se imediatamente em seguida em uma sala ao lado para conversarem sobre o caso, e eu fui convidada a participar da conversa, felizmente. Ouvi atenta que sua indicação era de cirurgia. Pronto, foi a decisão para que os preparativos se iniciassem.

Incrivelmente tranquila, avisei meus familiares e fui me informar da possibilidade de eu participar da cirurgia, obviamente para observar, mas não só (continue lendo). Soube que o procedimento cirúrgico ocorreria em pouco tempo. Agilizei para comer e tomar algumas outras informações além de confirmar minha presença na cirurgia. Meus pensamentos pertenciam até então inteiramente na certeza do cuidado do Senhor sobre a vida do meu pai, uma vez que já o havia colocado nas mãos dEle em oração.

Como participar de uma cirurgia? Eu tinha mais noção de como pilotar um avião a jato do que como proceder em um centro cirúrgico. Passo a passo, olhar a olhar, respiração a respiração, tudo eu pedia orientação de como proceder. Fui muitíssimo bem acolhida pelos internos (alunos de 5° e 6° anos de Medicina) e pelo médico residente em Cirurgia que acompanhou o caso do meu pai (nomes escrevo depois com mais calma agradecendo).

Roupas estéreis, lavagem de mãos e antebraços, luvas, touca, máscara... pronta! Pronta?! É, estava muito calma, até eu me espantei com isso. Mas, tinha falado com o Senhor sobre essa situação e descansei no maravilhoso Poder, Sabedoria e Amor do Todo-Poderoso. A cirurgia começou (este post é mais para informações gerais do que ocorreu hoje, então vou me ater aos detalhes em postagens posteriores).


A porção do intestino comprometida foi localizada, o médico me mostrou e explicou enquanto manipulava a região. Durante a cirurgia, como sou muito alta (1,59m rs) fiquei sobre uma escadinha de dois degraus, logo atrás do Médico cirurgião. Não queira imaginar o que aconteceria se eu desmaiasse, rs. Foi tudo bem, a região afetada do intestino foi retirada e foi realizada colostomia.

Neste momento ele está internado na enfermaria da Clínica Cirúrgica do HU. Permanecerá com a colostomia por, aproximadamente, 2 a 3 meses. Logo em seguida, passará por outra cirurgia para "religar" as partes restantes do intestino. Essas são as informações até o momento. Em breve tentarei postar mais notícias. Conto com as suas orações; o Senhor está atento a sua voz.


O mais incrível:

De todas as cirurgias em que participarei na vida, como estudante e como médica no futuro, esta é a que mais IGNORANTE estive e a que mais EFETIVA fui. Não me pergunte o porquê, conclua sozinho: minhas mãos, com o adeus à completa ignorância (mas não toda ela) e o advir do conhecimento técnico e científico ao longo do curso de Medicina, passarão a tatear instrumentos cirúrgicos e a manusear estruturas anatômicas, mas hoje... ah, hoje na minha ignorância extrema, o que pude fazer foi levantar minhas mãos para orar - quer algo mais efetivo que isso?


"Como é feliz o homem que põe no Senhor a sua confiança, e não vai atrás dos orgulhosos, dos que se afastam para seguir deuses falsos!" Salmo 40.4





3 comentários:

Rúbia disse...

Lari, que coisa mais linda seu post. Não sei porque ainda me surpreendo com seu dom com as palavras. Deus te abençoou muito e continuará assim fazendo. Irei orar pelo seu pai e por você, para que continue essa pessoa iluminada. Um beijo.

Vinicius Vialle Ferreira disse...

Siteeeeer =D GLORIA A DEUS viu!! deve ter sido uma emoção tremenda, e meu, que testemunho de fé irmã. e vamo que vamo que tudo continuara dando certo. E realmente dentre as cirurgias que voce ja participou, essa ficara pra sempre. beijos, fique com o Paizão :*

uma quase Leonardo disse...

a fé nas suas palavras me inspiram uma paz de um jeito... uma calma...

a pureza é grande, que preenche. =]